Relato de experiência - CC Pedagogias da Cena com Prof. Dr. Fábio Nieto Lopez

Atividade final de auto-avaliação e análise de percurso do componente de Pedagogias da cena Q3-2023 - Universidade Federal do Sul da Bahia.


Turma pedagogias da cena Q3-2023.

Ao me inscrever neste componente, não tinha plena noção da magnitude transformadora que ele teria em minha perspectiva como artista e educador. A decisão de me matricular foi impulsionada por dois fatores significativos, sendo o primeiro deles a minha experiência anterior com o Professor Fábio Nieto no componente de Artes da Grafia. A oportunidade de me expressar artisticamente proporcionada por ele revelou uma dinâmica de aulas acolhedora, que despertou em mim o desejo de criar os textos que estavam entalados em minha garganta e os que uma vez tinham conseguido sair, mas nunca saíram dos limites dos dedos de minhas mãos... Escrever era algo que há muito tempo não conseguia experimentar. Por conta disso, Fábio tornou-se um daqueles professores que se tornaram para mim, verdadeiros pilares que mantém de pé a vontade de continuar no caminho e não desistir do curso. Neste momento tenho 3 professores incríveis assim, Fábio, Alessandra Simões (que infelizmente não está mais na universidade, porém ainda troco mensagens quando o tempo não é cruel demais) e Martin Domecq.

Falando em Martin, o segundo motivo que me motivou a ingressar neste componente foi minha participação recente no Ateliê em Corpos, Tempos e Espaços, ministrado pelo Professor Martin Domecq. Foi nesse curso que percebi, pela primeira vez, que também tinha afinidade com o teatro. Até então, ao me questionarem sobre que tipo de artista eu era, costumava responder que fazia de tudo, exceto cantar, dançar e atuar. Contudo, descobri que eu mentia. Sei dançar, sei atuar; só me faltava a prática. Martin me provou isso. Dessa forma, decidi me matricular no "Pedagogias da Cena" para explorar mais a fundo esse novo mundo de experiências.

As primeiras aulas em Pedagogias da Cena foram fundamentais, pois, embora eu já conhecesse boa parte dos colegas no grupo, muitos ainda eram desconhecidos para mim. Esse aspecto se torna particularmente desafiador em um contexto tão íntimo como é o deste componente, onde nos abrimos para sentimentos e experiências, colocando-nos em uma posição de vulnerabilidade ao explorar territórios inexplorados. As dinâmicas iniciais tinham como objetivo quebrar as muralhas que separavam os participantes. Na roda, todos em pé carregavam suas vergonhas, com Fábio nos desafiando a ocupar o centro e invadir o espaço alheio enquanto enfrentávamos suas barreiras com olhares intensos. A bolinha que passávamos uns para os outros, enquanto nos encarávamos e dizíamos nossos nomes, derrubava tijolos e criava aberturas para o contato direto. O "passe da palavra" que praticávamos com as mãos penetrava nesses espaços, esgueirando-se entre as frestas e promovendo a interação direta. Sem isso, todo o processo que viria em frente não seria possível.

Na primeira abordagem sobre a história do teatro com o livro de Margot Berthold, Fábio conseguiu condensar em apenas alguns minutos todo o conhecimento essencial para nos lançarmos nesta nova jornada. Enquanto ele discorria solitariamente, éramos todos ouvidos, imersos em sua explanação com atenção e respeito, testemunhando uma cena bela, pois ali não existia a imposição do silêncio característica das dinâmicas opressivas da educação bancária, tão criticada por Freire. Não havia espaço para isso. A troca de conhecimento acontecia não apenas através da escuta atenta, mas também por meio de uma demonstração prática de como nos portarmos como educadores na qual Fábio, de forma intencional ou não estava nos proporcionando. Afinal, embora o foco estivesse no teatro, as palavras de Fábio ecoavam também na outra temática basilar do componente, a pedagogia em uma de suas melhores formas.

Dentre as referências utilizadas no desenvolvimento do componente, incluia o livro de Viola Spolin, que apresenta o método criado por ela para o ensino de teatro, com ênfase na improvisação, inclusive para aqueles que nunca haviam adentrado um teatro anteriormente. Devorei suas páginas sempre que meu corpo e minha mente me permitiam, segurando as páginas de "Improvisação para o Teatro" entre os dedos enquanto mergulhava na leitura. Estava completamente absorvido por tudo ali, indagando constantemente "quem, onde e o quê?" em qualquer situação, como se cada narrativa da vida real, cada fofoca ouvida, se transformasse em uma cena de uma peça ou de uma oficina teatral. Falando em oficina, decidi criar uma. Os primeiros experimentos foram conduzidos por mim de maneira improvisada durante os horários de aula que eu ministrava em algumas salas de um colégio estadual de minha cidade. Moldei o que viola falava e o que eu via de exemplos que Fábio nos passava e adaptei para utilizar nos novos, delirantes e muitas vezes inúteis componentes do novo ensino médio. Não houve uma turma que não pedisse mais daquilo. Foi extraordinário testemunhar o empenho daqueles adolescentes que, pela primeira vez, experimentavam a arte, apaixonando-se por ela por meio de uma oficina improvisada de uma área tão específica quanto o teatro de improvisação.

Outra referencia foi Augusto Boal do qual senti falta de aulas mais focadas no que ele produziu, assim como fora feito com Viola Spolin. Acho que por este motivo, foquei mais nela e negligenciei muito a leitura de o "Teatro do oprimido" durante o percurso. Me comprometo nos próximos meses de mergulhar neste livro assim como mergulhei no de Viola Spolin, pois reconheço a importância avassaladora das contribuições de Boal para o teatro, especialmente o teatro genuinamente brasileiro. Apesar de não ter lido seu trabalho, as últimas aulas do curso incorporaram suas ideias para aprimorar os exercícios descritos por Spolin em seu livro. Além disso, as visitas a peças teatrais no Centro de Cultura Adonias Filho proporcionaram uma vivência prática das ideias de Boal, direcionando-nos de maneira tangível para a culminação do componente com a cena final.

Para concluir este texto, reafirmarei tudo que falei sobre a minha experiência, pois meus dedos estão começando a travar e minha capacidade de escrita está se esgotando. Em resumo, esta jornada foi genuinamente transformadora para mim, neste quadrimestre foi o componente que mais me esforcei para não me deixar levar pelas sinapses destrutivas de meu cérebro. Mas pessoalmente, valeu a pena o meu esforço sendo ele suficiente ou não. Cada etapa serviu como um impulso motivacional para o próximo ano, quando pretendo concretizar o projeto do meu coletivo de arte. Sinto mais do que nunca a necessidade desse projeto, não apenas para mim, mas para a minha cidade. Todas as experiências vivenciadas durante este curso serão compartilhadas nele, e estou otimista quanto à participação das pessoas incríveis que conheci ao longo desse processo, incluindo o próprio Professor Fábio, Hans Miller da Guilda Cacilda (com quem já troquei ideias sobre possíveis parcerias), bem como meus colegas de jornada, com os quais pretendo fortalecer nossos laços e estabelecer colaborações mais profundas.